Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

1647 - Quanta saudade, Cássia!

"Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber
Que o pra sempre, sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém, só penso em você
E aí então, estamos bem." (Renato Russo)





A gente nem percebe, mas parece estar o tempo andando muito mais rápido do que antigamente. Há poucos dias tomei um susto ao descobrir que se completam hoje 15 anos de ausência de uma das cantoras que mais gosto, a Cássia Eller. Foi no dia 29 de dezembro de 2001 que Cássia nos deixou tão precocemente. Sofreu um repentino infarto do miocárdio quando contava com apenas 39 anos e passava pela melhor fase da carreira artística. Iria se apresentar na virada daquele ano em show marcado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Neste ano de sua morte havia gravado em DVD o Acústico MTV, uma maravilha de apresentação, com enorme sucesso de vendas. Antes havia se apresentado no Rock in Rio III e em mais dezenas de outros shows. Seu falecimento tão prematuro foi noticiado vergonhosamente como sendo causado por overdose de drogas. A revista Veja lamentavelmente publicou na sua capa tal versão, completamente descartada após realização de vários laudos periciais. Mais uma página vergonhosa da imprensa brasileira, cada dia que passa com menos credibilidade.


Cássia Rejane Eller nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 10 de dezembro de 1962. Tornou-se famosa após anos e anos de batalha pelos mais variados palcos do país e por performances arrasadoras de clássicos do rock e composições de grandes nomes da música brasileira como Chico Buarque, Cazuza, Gilberto Gil, Renato Russo, Caetano Veloso e seu grande amigo Nando Reis, com quem tinha uma afinidade musical surpreendente.
Na vida pessoal, Cássia era como um doce de pessoa, simples, alegre e superdivertida, mas tinha dificuldades de relacionamento devido à sua enorme timidez, o que a levou a penetrar e permanecer por algum tempo no perigoso mundo das drogas. Era homossexual e não tinha a menor preocupação em esconder isso de ninguém. De um relacionamento fugaz com um músico amigo, o baixista Tavinho Fialho, gerou o filho Francisco, o Chicão, o maior amor da sua vida. O pai não chegou a ver o filho, morrendo meses antes de o menino nascer, em um acidente automobilístico. Tempos depois, Cássia iniciou um relacionamento firme e duradouro com a sua parceira Maria Eugênia Vieira Martins, que passou a cuidar de Chicão após sua morte, depois de vencer um processo complicado de disputa familiar pela guarda do garoto.


Cássia, com sua voz potente e arrebatadora, se transformava em cima do palco, vencendo a timidez e extravasando toda a sua rebeldia, irreverência e talento, a ponto de mostrar os seios durante a sua apresentação no Rock in Rio III. Ela também não colocava limites no seu repertório, gravando canções de que realmente gostava, independentemente do gênero musical. Gravou canções de Beto Guedes e Márcio Borges, de Lennon e McCartney, de Luís Melodia, de Itamar Assumpção, de Jimi Hendrix, de Raul Seixas, de Djavan e até de Riachão.


Uma mais aguçada perspectiva da vida da Cássia pode ser visualizada no documentário "Cássia Eller", dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e lançado em 29 de janeiro de 2015, em que são mostradas cenas de shows e bastidores, além de depoimentos de familiares e amigos, proporcionando uma ótima oportunidade de se conhecer melhor esta grande artista brasileira. Uma passagem de que gosto muito do filme, é quando a mãe da Cássia, Dona Nanci, conta que Chicão, ainda criança, dizia para a sua mãe que ela não cantava, que ela berrava. Quem cantava mesmo para ele era a Marisa Monte. Isso foi significativo para que Cássia desse uma virada na carreira, passando a cantar com menos agressividade que antes, o que só lhe fez tornar-se melhor intérprete. 

    
Para matar a saudade, restam os seus poucos álbuns com as suas interpretações vigorosas, arrebatadoras, viscerais, encantadoras, sensíveis, emocionantes, suaves e que tocam fundo na alma, pelo menos na minha. E é ouvindo suas músicas que prestarei a minha homenagem simples, pessoal e recôndita neste dia de lembranças mistas de alegria e tristeza. 
Como faz falta essa cantora magnífica que tinha paixão pelo nosso Clube Atlético Mineiro! Saudades, Cássia!
Um grande abraço espinosense.  


Discografia:
Cássia Eller (1990)
O Marginal (1992)
Cássia Eller (1994)
Cássia Eller Ao Vivo (1996)
Veneno Anti-monotonia (1997)
Veneno Vivo (1998)
Com Você Meu Mundo Ficaria Completo (1999)
Acústico MTV (2001)
Dez de Dezembro (2002) Póstumo
Rock in Rio: Cássia Eller Ao Vivo (2006) Póstumo
Relicário (2011) Póstumo

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