Espinosa, meu éden

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quinta-feira, 19 de maio de 2011

131 - Espinosenses pelo mundo: Dom Lúcio Antunes de Souza

A grande maioria da população de Espinosa não conhece a história de muitos dos seus homenageados nos nomes das travessas, praças, ruas e avenidas da cidade. E não é culpa das pessoas, pois não há o acesso a essas informações nas escolas, que eu saiba. Quando estudei por lá, há muito tempo, nunca tive acesso a informações sobre o Coronel Joaquim Tolentino, ou o Coronel Domingos Tolentino (nome da minha amada Rua da Resina), ou o Coronel Heitor Antunes, ou ainda o Antonino Neves. Quem foram eles? O que fizeram em prol da cidade para merecerem tamanha homenagem? Ainda não sei. Mas vou procurar. Talvez eu consiga alguma informação com algum estudioso da nossa história. Ou talvez na Internet, quem sabe.
Pois foi na rede mundial de computadores que encontrei, surpreso e maravilhado, a história da vida de um dos nossos homenageados no nome da Escola Estadual Dom Lúcio e na pequena rua que liga a Praça Cel. Heitor Antunes à Praça Cel. Joaquim Tolentino, bem no centro da nossa cidade. Achei a história de Dom Lúcio Antunes de Souza nos Anais do XI Encontro Regional da Associação Nacional de História - ANPUH/PR, escrito pelo Docente do Departamento de História da UENP/FAFIJA e Mestre em História pela UNESP/Assis, Maurício de Aquino. Vamos a ela:

D. Lúcio Antunes de Souza nasceu em Lençóis do Rio Verde, atual Espinosa, em Minas Gerais, no dia 13 de abril de 1863, filho do fazendeiro e major Antônio Antunes de Sousa e de dona Maria Joana da Soledade. Em 1880, entrou no seminário de Diamantina, diocese governada por D. João Antônio dos Santos, discípulo do bispo reformador D. Antônio Ferreira Viçoso, entre 1863 e 1905. Entre 1891 e 1896, ocupou o cargo de professor do seminário de Diamantina. Foi vigário em Tremendal, entre 1896 e 1903. Neste ano, retomou as aulas do seminário, fundou o jornal católico A Estrella Polar (publicado até hoje) e atuou como secretário do bispado até 1908, quando foi indicado, pelo bispo local e pelo Cardeal Joaquim Arcoverde Cavalcanti, à Diocese de Botucatu, onde faleceu em 19 de outubro de 1923, aos 60 anos.
Em 07 de junho de 1908, através da Bula Diocesium Nimiam Amplitudinem, a Diocese de São Paulo foi elevada à condição de Arquidiocese, tendo por sufragâneas as cinco novas dioceses paulistas, erigidas pela mesma Bula, a saber: Botucatu, Campinas, Ribeirão Preto, São Carlos e Taubaté. Destas, a de Botucatu era a territorialmente maior, abrangendo cerca de 50% do Estado de São Paulo, cobrindo as regiões de fronteira com os estados de Paraná e do Mato Grosso.
D. Lúcio não estudara na Europa, mas sua formação deu-se em um dos centros de difusão do catolicismo ultramontano. Sua formação foi marcada, outrossim, pelos atritos que a Igreja viveu com o advento da República. Ele possuía, indubitavelmente, fortes vínculos com a elite eclesiástica que o elegera, mas, sobretudo, com a Instituição da qual fazia parte. Por isso, servindo-se da herança paterna, foi a Roma, sede institucional do sacerdócio na visão ultramontana, para lá ser sagrado bispo da Igreja. A cerimônia aconteceu no dia 15 de novembro de 1908, dia de São Lúcio no antigo santoral, na capela do Colégio Pio Latino-Americano. O cardeal Arcoverde foi o sagrante principal. D. Joaquim Silvério de Souza (bispo de Diamantina entre 1905 e 1909) e D. Francisco do Rego Maia, brasileiro arcebispo de Nicópolis, foram seus consagrantes. Depois, visitou o papa Pio X e voltou ao Brasil.
D. Lúcio tomou posse na nova diocese em 20 de fevereiro de 1909, com total desconhecimento acerca da realidade da diocese que assumiria. A diocese do "sertão desconhecido" era uma verdadeira terra de missão: D. Lúcio deveria interpretá-la e convertê-la à Igreja. O novo prelado foi recebido por quatro dos seis mil habitantes da cidade, em clima de muita festa e calorosos discursos das autoridades locais. Mas, passados alguns dias, o "bispo do sertão paulista" percebeu a precariedade estrutural e patrimonial de sua diocese e afirmou ter de esmolar para manter as atividades do bispado.


Entrada do prédio da Escola Estadual Dom Lúcio em Espinosa

Fotografia antiga da Rua Dom Lúcio
Mas, sabemos retrospectivamente que D. Lúcio não se deixou abater por essas dificuldades iniciais, gerindo sua diocese por quase quinze anos. De fato, a partir daí, "o bispo do sertão paulista" envidaria todos os seus esforços no sentido de construir um sólido patrimônio eclesiástico, imprescindível para a autonomia e a execução dos projetos diocesanos. Para auxiliá-lo em suas tarefas, D. Lúcio convidou os padres capuchinhos a se fixarem em Botucatu, o que ocorreu em 12 de abril de 1909. Estes padres - os clérigos que melhor conheciam o território da nova diocese - foram imprescindíveis na ação romanizadora de D. Lúcio. Depois, chegaram os Missionários do Sagrado Coração, responsáveis, primeiro pelo seminário e, em seguida, pelas turbulentas regiões de Cafelândia e Bauru. Em 1912, o bispo trouxe para o Brasil as Irmãs Marcelinas com o intuito de fundar um colégio feminino. Em 1914, vieram os Padres Lazaristas, depois de muita negociação entre o bispo de Botucatu e o Papa Pio X, para administrarem o seminário de Botucatu, inaugurado em 1911. 
Até sua morte, em 19 de outubro de 1923, D. Lúcio visitou por quase três vezes todas as paróquias de sua extensa diocese. Envolveu-se em inúmeras disputas patrimoniais, políticas e religiosas, procurando implantar um modelo de Igreja segundo os moldes romanos, clericalizada e sacramentalizada, que acreditava ser, em sua concepção ultramontana do catolicismo, o verdadeiro agir dos cristãos. Sua ação romanizadora, no entanto, foi efetivada em um cenário bem diferente daquele da venerada Europa, exigindo estratégias e dinâmicas peculiares ao contexto histórico e geográfico da recém-criada Diocese de Botucatu, devendo lidar ainda com os desafios de construção institucional da Igreja brasileira e com as necessidades do governo republicano no sentido de expandir o moderno Estado-Nação, vinculado aos interesses do capitalismo internacional.